terça-feira, 25 de junho de 2013

Novo show Viva o Rock Rural




 VIVA O ROCK RURAL
Por Tavito 

A primeira vez que ouvi a expressão “rock rural” foi numa canção de minha própria lavra – em parceria com meu amigo-irmão Zé Rodrix – aquela que Elis tornou clássica quando a interpretou, magistralmente, nos anos setenta: a famosa “Casa no Campo”. O marco inicial do estilo que se tornaria uma vertente da canção brasileira foi, como tantos outros, um prurido de puríssima coincidência, nascido da genialidade de um pensador atento e de contornos muito mais abrangentes do que sua própria construção sugere. 


Zé Rodrix fala de uma geração exaurida pelos grilhões da ditadura militar e pelos descalabros internacionais de uma falida guerra no longínquo Vietnam, onde sucumbiam todos os seres humanos sobre a terra, sem exceção. Por aqui, atuavam jovens aguerridos e armados de seus sacrossantos ideais libertários, estes que nem sempre desaguavam em filosofias pacíficas; uma juventude que promoveria, segundo o poema, o seu próprio êxodo, despregando-se do meio cosmopolita para dedicar-se às simplicidades mais primevas dentro do conceito proprietário de seu destino, desfazendo-se da cosmópole opressora e criando um bucólico poleiro filosófico repleto de livros, onde todo o pensamento universal poderia descansar, independentemente de sua geografia demográfica. 



Uma luz na escuridão, um bordão único em todos os sentidos, para abrigar a esperança funcional que se mune dos óculos da inteligência, esperança esta sem a inocência do binômio “Paz e Amor” hippie (já que pressupunha alguma propriedade), mas igualmente tônica e motivo central do comportamento humano. Coincidentemente, Rodrix criou um quadro, um panorama que é também o sonho recôndito de qualquer cidadão oprimido pela magnitude às avessas da megalópole fervilhante. Coube-me apenas musicar seus escritos.

            O espetáculo “Viva o Rock Rural” é uma homenagem ao estilo; apresenta Sá e Guarabyra, companheiros de estrada de Zé Rodrix, que perpetuaram através dos anos uma leitura única dos assuntos mais variados, forrando com suas violas e guitarras o inexorável tempo – esse que só faz passar e nos deixar aflitos – costurando abordagens únicas a qualquer tema, do amor à guerra. Com eles, o compositor e instrumentista, expoente dessa mesma geração, integrante da banda 14 Bis – que tão bem canta o bucolismo mineiro fortemente atrelado ao vigoroso pop universal – o excepcional Cláudio Venturini, guitarrista de mão cheia, compositor de brilho pleno e amigo de tantas jornadas. Por fim, some-se a estes o que ora constrói estas maltraçadas, um Tavito renovado pelo galope do tempo, disposto a misturar e somar sonoridades, idéias e amigos, num tremendo trelelê musical com muito humor, pois que este é um artigo de primeiríssima necessidade nos tempos que correm. 

Permito-me dizer que é um espetáculo imperdível, um longo abraço de um passado recente a um presente sempre turbulento e a um futuro alvissareiro de esperança, amigos, discos, livros e nada mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

!